sábado, 12 de mayo de 2012

Conferência de abertura mostra a pesquisa de Ronaldo Pilli, da Unicamp, sobre síntese orgânica

http://boletim.sbq.org.br/noticias/n403.php

 

Em uma certa tarde do verão de 1987, a equipe do laboratório de síntese orgânica do Instituto de Química da Unicamp assistiu a chegada de inúmeros insetos da espécie L. serricorne que atravessaram as janelas para pousar sobre as bancadas. A visita inesperada tinha uma explicação científica. O trabalho recém-concluído no laboratório havia obtido, de forma sintética, o feromônio excretado pelos insetos, utilizado por eles na busca de parceiros. Durante os anos seguintes, uma série de resultados importantes, tendo em comum a síntese de moléculas com atividade biológica, se somariam à carreira do pesquisador Ronaldo Aloise Pilli, um dos pioneiros em sínteses totais do IQM da Unicamp. Ele foi o conferencista escolhido para a abertura da 35ª Reunião Anual da SBQ, que acontecerá de 28 a 31 de maio, e terá como tema "Síntese Orgânica: pequenas moléculas, grandes desafios".

Outros projetos voltados para a síntese de produtos naturais bioativos se seguiram, como a do componente do feromônio da formiga lava-pés, e da aglicona do antibiótico 10-desoximetimicina. Os feitos marcaram, da mesma forma, etapas na evolução da pesquisa e abriam frentes para outros grupos da área. Os ganhos assinalados durante essa trajetória registram a contribuição como formador de uma geração de novos pesquisadores, ajudando a moldar a face atual da ciência brasileira. Foram cerca de 20 dissertações de mestrado e aproximadamente 30 teses de doutorado, que formaram professores e pesquisadores, hoje atuantes no Brasil e no exterior.

Outra linha de trabalho que abriu portas para a inovação, e que será abordada na conferência, é a síntese de alcalóides, cuja obtenção em laboratório envolvia a exploração de novos métodos sintéticos. Em uma fase seguinte, a partir do início dos anos 2000, Pilli dirigirá sua atenção para o estudo da atividade biológica de compostos sintéticos inspirados em produtos naturais, em associação com outros especialistas, visando, principalmente, a química medicinal. "É um esforço para entender a ação de pequena moléculas sobre os sistemas biológicos", observa.

O desenvolvimento da área de síntese no país caminhou em paralelo com a carreira de Ronaldo Pilli. Ele lembra que em meados dos anos 1980, quando começou a trabalhar de forma independente, havia poucos grupos dedicados a essa atividade, estabelecidos em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Rio Grande do Sul. "Decidimos que seria importante ter uma comunidade de químicos sintéticos bem treinada que pudesse atuar em nível nacional e internacional". Uma das iniciativas para isso era criar congressos que propiciassem a interação dos pesquisadores, recorda. Daí surgiu o Brazilian Meeting on Organic Synthesis (BMOS) que no próximo ano celebrará sua 15ª edição.

Hoje, olhando em retrospectiva para esse processo, ele avalia que o esforço da comunidade tornou possível à pesquisa aparelhar-se para encarar os grandes desafios com os quais a Química se defronta: "talvez a vocação da medicina do futuro seja antecipar os diagnósticos e aí temos um papel muito importante. Podemos contribuir para criar produtos que venham a prevenir essas doenças. Mas isso não isoladamente, claro. Nós temos que colher informações que vêm, por exemplo, da área de genômica, proteômica e bioinformática. Se nós soubermos nos associar a especialistas dessas áreas, poderemos avançar muito rapidamente".

O paulista de Piracicaba, Ronaldo Aloise Pilli, fez sua formação acadêmica na Unicamp e o pós-doutorado em Berkeley, na Universidade da Califórnia. Tem cerca de 100 trabalhos publicados em periódicos de circulação internacional que geraram 1.500 citações. Relaciona, também, patentes registradas na área de feromônios e fármacos. É detentor do prêmio "Silver Jubilee Award", da Fundação Internacional para a Ciência, da Suécia. No Brasil, foi homenageado com a Ordem Nacional do Mérito Científico (2006) e o Prêmio de Reconhecimento Acadêmico Zeferino Vaz (2008). Foi membro do corpo editorial da revista Química Nova, editor do Journal of Brazilian Chemical Society e diretor do Instituto de Química da Unicamp, instituição da qual é atualmente Pró-Reitor de Pesquisa.

Fonte: Carlos Martins (Assessoria de Imprensa da SBQ)

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